A conclusão, parte 3

A Conclusão, Parte 3
Por Shawn Carman

O vigésimo - primeiro dia do Mês do Cachorro, ano 1170.

Ide Yusuke caminhou ao longo do caminho isolado sozinho, com seus pensamentos apropriados para o momento. Aqui ele pôde finalmente escapar dos clamores incessantes que surgiram pela colina Seppun. Quando a população de uma cidade estava concentrada em uma área tão pequena, dadas as razões para se comportar como se fosse o último dia do Festival Bon... Bem, aquele não era particularente o ambiente que ele apreciava. Aprendeu há muito tempo atrás a lidar com isso, claro, mas dada a oportunidade de se retirar, mesmo que por um curto espaço de tempo, ele fez de bom grado. E, afinal, tinha negócios importantes que exigiam sua atenção.


Há pouco tempo atrás, um vigia do Unicórnio veio encontrá-lo. Yusuke salvou a vida do pai do garoto em batalha, e o guerreiro nunca esqueceu. O vigia lhe informou que um solitário cortesão tinha sido visto andando pelo caminho que leva ao sul da colina Sepun. Parecia perfeitamente inofensivo claro, mas era uma pessoa na qual Yusuke teve um interesse em especial, especialmente após os inacreditáveis eventos da manhã. Então ele rapidamente colocou de lado suas obrigações no momento e seguiu o mesmo caminho, na esperança de encontrar sua presa em algum lugar na área. Yusuke tinha perguntas. Várias, na verdade.



Lá. Sentado em uma pedra perto de um pequeno riacho, o jovem parecia pensativo, talvez até mesmo preocupado, e esse pensamento encheu Yusuke de satisfação. Ele não tinha nada a não ser suspeita e desprezo pelo outro cortesão, e ficou espantado com as notícias que ouviu há algumas horas atrás. Que o próprio homem pareceu achar as notícias preocupantes somente confirmou a Yusuke que suas suspeitas tinham fundamento. “Susumu,” ele gritou enquanto se aproximava.


O jovem Aranha virou-se para a voz e sorriu. Pareceu tão natural, mas o Unicórnio duvidou muito de sua sinceridade. “Yusuke-san,” ele disse. De imediato ele estremeceu levemente e levantou sua mão apaziguadora. “Eu peço desculpas. Você especificamente me pediu para não ser excessivamente familiar, e isso foi inadequado. Eu devo dizer, Yusuke-sama.”


Yusuke franziu a testa. Não esperava essa deferência. Ele desviou o olhar para esconder sua cara de desalento. “Eu suponho,” ele admitiu com má vontade, “que este tipo de tratamento não é mais adequado. Ao que parece, sou eu quem deve chamá-lo sama.”


“Ah. Você ouviu falar então.” O jovem virou-se para observar a correnteza e o pasto além. Um cavalo pôde ser visto pastando à distância. “Na verdade, eu pensei em você quando eu soube da notícia. Eu sabia que você ficaria chateado.”


“Eu quero compreender,” Yusuke disse. “Você é um ronin. Um membro do assim chamado Clã da Aranha, homens e mulheres que não têm o direito de se intitularem um clã, e o novo imperador escolhe você, de todas as pessoas, para servir como conselheiro imperial?”


“Assim é o que parece.”


“Nada disso faz algum sentido,” Yusuke disse rispidamente. “Poderia eu estar completamente errado em minha avaliação sobre você? Sobre seu povo? Eu preciso entender. Se eu estiver errado, então eu devo a você e à sua gente um pedido de desculpas.


Susumu sorriu e ergueu sua mão, com as palmas voltadas para cima. “Isso não é necessário, meu amigo. Você desejou servir ao seu clã somente. Eu lhe garanto, dado tudo que tenho visto, eu jamais culparei um homem por prudência.”

“Obrigado, Susumu-sama,” Disse Yusuke, o honorífico soando como cinzas em sua boca. “Eu estava com a esperança que... você poderia me contar o que aconteceu?” Ele detestou perguntar ao jovem com ar de tanta deferência, mas não conhecia outra maneira de solicitar a informação que necessitava.

“Eu queria contar a você,” disse Susumu. “Eu gostaria muito de conversar sobre isso. Por favor, sente-se. Temo que isso levará alguns instantes.” Ele bateu a mão de leve na pedra próxima a ele, e Yusuke sentou-se cuidadosamente. “Quando a nova Voz do Imperador veio me ver, eu fiquei bastante surpreso, e nem um pouco assustado. Poucos estão satisfeitos com o fato de que nós da Aranha estamos presentes, mesmo com o endosso de seu Khan. Eu pensei que talvez ele tinha vindo para me expulsar ou até mesmo me punir.”

“Punir?” Perguntou Yusuke.

“Eu tenho uma litania de pecados que eu mantenho bem escondida dos meus anfitriões do Unicórnio,” Susumu disse com um sorriso desarmador. “A Voz me disse que o novo Imperador estava bem ciente da amplitude e o âmbito das atividades do Clã da Aranha. Você pode imaginar que isso para mim foi extremamente desencorajador.

Yusuke se atreveu na esperança que poderia descobrir a verdade. “Que atividades são essas?”

“Muito do que você já podia esperar,” Susumu disse. “Que nossos líderes orquestraram várias das ameaças que combatemos para conquistar o favor do povo. Que estávamos envolvidos em inúmeros assassinatos de indivíduos proeminentes, e que nós deliberadamente fomentamos corrupções políticas e morais em todos os níveis de praticamente todos os Grandes Clãs.

O velho intendente nada disse, ficou boquiaberto.

“A Divina sabia de tudo isto, a Voz explicou,” continuou Susumu, “mas optou por não revelar ao Império como um todo.”

“O que? Por que não?”

“Eu assumo que a associação da Aranha com o Unicórnio e, antes de vocês, o Louva-a-Deus, desempenhou um papel naquela decisão,” disse Susumu. “Caso a verdade fosse conhecida, ambos os clãs seriam cruelmente perseguidos, sem mencionar o Escorpião. O dever deles é localizar ameaças escondidas, esse tipo de coisa. Tais revelações poderiam facilmente alimentar as chamas de uma guerra novamente, e não é isso que A Divina deseja. Pelo menos é o que parece. No fim das contas quem pode verdadeiramente saber o que se passa na mente de uma monarca endossada divinamente?”

“Mas... mas...”

“Ainda assim, alguém deve admitir que haverá ramificações terríveis,” continuou Susumu. “Quaisquer outras… indiscrições… por parte da Aranha provavelmente resultarão em nossa indiscriminada execução indiferentemente das ramificações que tais atos poderiam gerar entre os clãs.”

“Por que é você o Conselheiro Imperial?” Bradou Yusuke.

Susumu se mostrou genuinamente surpreso com a pergunta. “Eu pensei sobre isso. Primeiro, eu acredito que foi Liderança, de Akodo, que advertiu que um inimigo deve ser mantido próximo. Segundo, homens como eu conseguiram enganar um Império inteiro. Nós procuramos os fracos e os famintos, e os voltamos a nossos fins sem dificuldade alguma. Mesmo se esse tipo de habilidade não puder ser usado na corte, pelo menos imagino que eu possa oferecer uma perspectiva completamente única para a Divina Imperatriz, como nenhum outro na Corte Imperial poderia.” Ele sorriu. “Um homem pode ter esperanças!”

Yusuke ficou em silêncio, atordoado, na tentativa de absorver tudo que acabara de ouvir. Raiva cresceu em seu peito, mas se esforçou para manter sob controle. Esta era uma oportunidade para livrar seu clã de uma enorme ameaça, e ele não devia agir precipitadamente. “Por que você me disse tudo isso?” Ele perguntou cautelosamente.
“Honestamente?” Susumu disse. “Eu certamente não deveria ter feito isso. Parece descuido, não acha?”

“Por quê?” Yusuke repetiu.

“Sinceramente, parte de mim queria muito sentar e conversar com alguém sobre o caso todo, sem a rede de mentiras com a qual eu normalmente lido. Não interprete mal, eu acho uma arma confortante para usar contra os outros, mas hoje foi... incomum. E eu senti necessidade de um pouco de honestidade. Isso é extraordinariamente incomum para mim. Sob circunstâncias normais, mentir, para mim, é tão simples quanto respirar.” Ele lançou um olhar de esguelha ao Unicórnio. “Mas claro que você sabe disso. Sempre soube.”

“Eu acho que é hora de convocar os magistrados,” disse Yusuke, começando a levantar.

“Eu também compartilhei isto contigo,” Susumu continuou, embaraçado com a ameaça do intendente, “porque você foi o único, eu acho, que suspeitou da verdade. Seu povo nos aceitou de tão bom grado. Antes de ter iniciado a servir meu senhor, eu acho que teria considerado sua hospitalidade... comovente. Mas não você, pessoalmente, é claro. Você me despreza, assim como a todos da minha estirpe. Você ser um dos principais na disputa para substituir Ide Tang é um problema, naturalmente, devido a sua extensiva experiência militar. Caso você assuma o controle dos Ide no lugar daquele repugnante palhaço afetado do Eien, o que eu digo com toda afeição e respeito, se me permite, minha vida se tornaria consideravelmente mais difícil. E isso, é claro, tem a ver com o motivo que me fez falar com você hoje.”

Yusuke escutara o suficiente. Ele levantou e virou-se, recolhendo sua mochila. Quando se voltou, Susumu havia se levantado silenciosamente e parado diante dele. Ele começou a vociferar uma ordem para que o jovem saísse, mas se viu estranhamente incapaz de falar. Alguma coisa estava errada, mas ele não sabia o que. “A razão final,” disse Susumu calmamente, “é que depois de hoje, não estou muito certo de quando terei novamente a chance de tirar a vida de um inimigo com minhas próprias mãos. Possivelmente nunca mais, e eu queria saborear essa sensação uma última vez.”

O Unicórnio olhou para a faca que o Aranha cravara em seu estômago. Ele esforçou-se para falar, mas as palavras não saíram. Ele alcançou debilmente o rosto de Susumu, mas o jovem cortesão repeliu sua mão distraidamente. Yusuke teve a idéia de remover a faca, mas antes que pudesse fazer, tudo ficou escuro, e ele caiu na escuridão.

Susumu encarou o corpo do Unicórnio por um momento. “Uma pena,” ele murmurou. “Muitos tipos repugnantes frequentam esses grandes torneios, procurando por presa fácil.” Ele pegou a bolsa do cortesão caído e espalhou seu conteúdo pelo chão, cuidadosamente retirando um punhado de moedas para fazer parecer que ele foi vítima de roubo. Então virou-se, e foi encontrar um magistrado, lançando sua simples faca e sua saya no riacho enquanto andava.

5 comentários:

  1. Ae pessoal, minha primeira contribuição para o blog. Espero que gostem.
    E em breve a quarta parte...

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  2. Ficou bom soh faltou marcar como fictions,mas eu ja iz isso^^
    Susumu n presta ¬¬

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  3. Susumu não presta mesmo, mas é foda! Heheheh

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