A Conclusão, parte 1

A Conclusão, Parte 1
por Shawn Carman

O vigésimo - primeiro dia do Mês do Cachorro, ano 1170

Apesar de não serem particularmente grandes, os quartos disponibilizados para uso da família Otomo em Kyuden Seppun sempre foram usados na maior parte como um arquivo, onde duplicatas de documentos importantes eram mantidos para registro. Tipicamente havia um ou dois Otomo posicionados ali a qualquer momento, um grito distante dos dias onde as ruínas de Otosan Uchi serviram como a gloriosa Cidade Imperial. Agora, Kyuden Otomo e a nova capital Toshi Ranbo eram simplesmente longe demais para que a família enfatizasse a posição em Kyuden Seppun, o que a família Seppun obviamente compreendia, e não se sentia insultada. Nos últimos dias, no entanto, toda a área estava em caos, com dúzias de Otomo presentes. Dado o torneio sem precedentes ocorrendo nas proximidades, e o que ele significava para o Império, a maioria dos Seppun simplesmente tentava ficar fora do caminho dos Otomo.

Otomo Ouga pegou um pergaminho de um dos muitos subordinados que estavam correndo de um lado para outro e o abriu em uma mesa à sua frente, franzindo as sobrancelhas austeramente enquanto o fazia. “Não, isso não servirá. Isso não servirá de modo algum. Essas distribuições de deveres são completamente inaceitáveis. Esses embaixadores são muito jovens para serem designados a postos tão importantes!”


O jovem que o havia entregado o pergaminho empalideceu sutilmente. “Mas Ouga-sama,” ele propôs cuidadosamente, “esses postos só foram criados por Taneji-sama há uns dois meses atrás.”

“E Taneji-sama teve o bom senso de me designar para supervisionar estes assuntos em sua ausência”, Ouga disse, eriçado com a temeridade do subordinado. “Eu farei novas designações em seu lugar. Vá e encontre meia dúzia de Miya e diga-os que será necessário que eles comecem a distribuir novas ordens muito em breve.”

“Hai”, o jovem disse, e saiu da sala de uma vez. Ouga fechou a cara, certo de que o tolo parecia grato em partir. Ele não tinha nenhum senso da gravidade do que estava ocorrendo! Nenhum deles tinha. Eles veriam muito em breve. Sua careta ficou mais severa quando ele ouviu o cortesão em retirada dizendo, “Com licença, sama”, mansamente. Ouga voltou facilmente para sua “máscara” mais apresentável, um olhar de autoridade impassível que ele trabalhou durante toda sua vida para aperfeiçoar em prol de seu trabalho. Ele se virou para a porta com sua máscara no lugar, olhando para o recém-chegado e esperando.

O jovem se curvou e então cuidadosamente prendeu seu cabelo atrás de sua orelha, um movimento praticado o qual Ouga tinha certeza de que o homem, pouco mais que um garoto, pensava que iria conquistar muito apreço com as damas da corte. “Perdões, meu senhor”, o recém-chegado disse. “Posso perguntá-lo quem seria o membro senior presente de sua honrada família?”

“Eu sou Otomo Ouga”, ele respondeu, “hatamoto de Otomo Taneji, senhor dos Otomo”.

“É claro”, o jovem disse. “Eu o vi na Corte Imperial, é claro, mas eu não sabia se talvez Taneji estivesse presente hoje”.

“Ele não está”.

“Então talvez você possa ser útil, Ouga-sama. Eu tenho vários assuntos de importância considerável sobre os quais devo falar com você, o mais urgente sendo...”

“Basta,” Ouga disse, erguendo uma mão. “Eu não tenho intenção de ser rude, jovem Escorpião, mas há muito que deve ser feito hoje. A menos que você tenha ordens pessoais do Campeão do Escorpião ou talvez do Campeão Esmeralda...”

“Eu não tenho,” o jovem respondeu.

“.. então eu terei que pedir que volte outro dia,” Ouga terminou, se voltando a seus pergaminhos. “Eu tenho muito o que fazer para me envolver em qualquer assunto com que você tenha urgência. Eu ficarei feliz em arrumar algum tempo para um de meus subordinados falar com você, talvez amanhã. Isso terá que bastar.”

Não houve som da partida do recém-chegado. “Eu temo que não bastará.”

Ouga se voltou ao Escorpião, permitindo que sua máscara se partisse tão levemente para que todo o seu aborrecimento se tornasse óbvio. “Eu não tenho tempo para esta tolice, garoto,” ele disse, mantendo um tom equilibrado mesmo que suas palavras fossem menos que polidas. “Em questão de horas, talvez menos, um novo Imperador será proclamado, e eu devo estar pronto para representar os Otomo na cerimônia que ocorrerá...”

“A proclamação foi ao meio-dia, quase duas horas atrás,” o recém-chegado disse.

Todo o movimento dentro da câmara parou de uma vez, e todos os olhos se voltaram para o Escorpião. Ninguém ousou dizer nada, mas muitos dos jovens Otomo muito cuidadosamente se afastaram de Ouga, cuja expressão era de absoluto espanto. “Isso é ridículo! Eu teria sido convocado! Existe um protocolo que deve ser seguido em situações como esta, e os rituais para a coroação de um novo Imperador muito explicitamente exigem que...”

“Os Céus não estão presos por nenhuma lei exceto sua própria, ao que parece,” o Escorpião disse. “A proclamação ocorreu, e a coroação terminou. Muito está ocorrendo na cidade e castelo lá fora.” Ele tratou o velho com uma expressão desdenhosa. “Eu imagino que a maioria estava contente em deixá-lo aqui, dada sua natureza ridiculamente pomposa. Realmente, por que alguém se importaria em falar com você eu honestamente não posso imaginar.”

Os outros Otomo se espalharam, todos encontrando algo para fazer pelos cantos da sala, cuidadosamente inspecionando fileiras de pergaminhos, reunindo os materiais que eles estavam retirando e os substituindo, ou qualquer outra coisa que os deixasse fora do caminho da ira de Ouga. “Como ousa falar comigo desse modo!” Ouga rugiu. “Rapaz insolente! Eu sou de sangue Imperial! Quem você imagina que é, sua criança tola e insensata!”

“Eu sou Bayushi Hisoka,” o homem respondeu com um sorriso polido. “Eu sou o Chanceler Imperial.”

Não houve nada além do silêncio por pelo menos um minuto enquanto Ouga tentava absorver a informação. “Isso é ridículo,” ele finalmente disse, toda a autoridade esvaída de sua voz.

“Honestamente? Eu também acho,” Hisoka admitiu. “Eu tenho servido na Corte Imperial há anos, mas nada significativo. Eu ajudo o Campeão Esmeralda de tempos em tempos. Nós trabalhamos juntos antes de sua vitória no Campeonato. Mas novamente, sinceramente, eu acho esta situação, de certo modo... surreal.”

“O que... o que aconteceu?” Ouga disse. “Porque eu não... porque eu não fui convocado?”

“Eu tenho uma noção a esse respeito,” Hisoka disse, “mas no momento não é importante. Eu fui convocado pela nova Voz do Imperador, que me disse que a Divina era familiar com meu trabalho entre o Clã da Garça. Parece que a noção de construir alianças entre clãs que são, tradicionalmente, inimigos impressiona alguns, mesmo eu nunca tendo estado ciente de que eles sabiam de meu trabalho a princípio. A despeito disso, eu fui apontado o novo Chanceler Imperial, e como tal eu devo começar meu trabalho imediatamente. Felizmente eu estudei os diários de meu predecessor, Bayushi Kaukatsu, então eu tenho alguma noção do que me espera. Por isso, eu só posso agradecer às Fortunas.”

Ouga se esforçou para recuperar a compostura. Ele tomou um momento para ajeitar seus robes, e conseguiu colocar sua “máscara” de volta no lugar. “Naturalmente o novo Imperador vai desejar usar Kyuden Otomo para a primeira Corte de Inverno,” ele começou. “É no melhor interesse do trono imediatamente estabelecer um forte elo com as linhagens Imperiais, dado o significado das dinastias anteriores em termos de...”

“Isso é o suficiente,” Hisoka disse, cortando o velho. “Se você tivesse respondido de uma maneira diferente da de uma criança petulante antes, então talvez essa fosse uma discussão que poderíamos ter civilizadamente. Felizmente para mim, e infelizmente para você, esse não é mais tempo que eu precisarei perder. O dever de escolher o local para a primeira Corte de Inverno foi dado a mim, e eu escolhi. Kyuden Bayushi. Eu precisarei que sua equipe comece a me ajudar imediatamente.”

“Kyuden Bayushi?” Ouga franziu levemente as sobrancelhas. “Esta parece uma escolha ruim... Chanceler. Se eu posso...”

“Você não pode,” Hisoka disse. “Se eu tenho o dever de me certificar da segurança e santidade da Corte de Inverno do Imperador em tão pouco tempo, então eu precisarei de um local familiar com amplos recursos que eu possa usar. Será Kyuden Bayushi, e este não é um assunto aberto a discussão.”

Ouga afastou o olhar, seu estômago revirando. “Se você deseja. Eu posso arranjar para que minha delegação chegue em questão de dias.”

“Você não irá.”

O velho olhou para o Chanceler com uma expressão calma, mas seus olhos falavam de violência. “O que você quer dizer?”

“Eu quero dizer exatamente o que eu disse,” Hisoka respondeu. “Você é um bufão e um tolo, e até onde me diz respeito, você nunca colocará os pés na Corte Imperial enquanto eu viver. Infelizmente para você, você é muito velho para viver mais que eu e muito incompetente para me desgraçar ou matar, então eu imagino que seu pavor seja simplesmente avassalador.” Ele sorriu levemente. “Minha recomendação formal para seu senhor Taneji será de que você seja designado para as terras do Texugo como seu contato Imperial.”

Ouga sentiu seu sangue ferver. Sua face certamente era um quadro vermelho de fúria, e ele não pôde se controlar.

“Saia,” Hisoka o dispensou. “Fale outra palavra e eu me assegurarei que sua próxima colocação seja na Grande Muralha do Carpinteiro. O Caranguejo é um povo sensível, e eu tenho certeza que eles acharão utilidade até mesmo para um velho tolo cambaleante como você, se pressionados. Pessoalmente eu espero que eles estejam no pico de sua criatividade ao fazê-lo.”

O velho cerrou seus punhos, mas preferiu não dizer nada, e partiu de uma vez. O Chanceler Imperial sorriu para os outros Otomo, a maioria indivíduos jovens e não comprovados com muito pouca influência para evitar o desagradável serviço de Ouga. Eles retornaram o olhar com algo parecido com fascínio, e obviamente um pouco de medo. Hisoka já havia decidido que ele gostava do medo. Ele gostava muito dele.

“Eu preciso partir para a Cidade Imperial ao amanhecer,” ele disse entusiasticamente. “Até lá, há muito que eu preciso fazer, mas existem vergonhosamente poucos Escorpião aqui para me ajudar. Vocês terão que bastar. Executem seus deveres bem e vocês encontrarão lugar a meu serviço. Se vocês não forem capazes disso, então talvez Ouga-san goste de sua companhia em suas viagens.”

Todos os Otomo reunidos se curvaram pronunciadamente, assim como os dois guardas Seppun na porta. Sim, Hisoka pensou. Sim, isto certamente será interessante.

4 comentários:

  1. Hisoka foda deu até pena do Otomo-gagá tadinho.
    Soh p autopropaganda "em breve tirinhas *.*"
    PS:Hisoka eu pegava Lol

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  2. Que foda cara...

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  3. Porra, o Hisoka é muito foda! Ele acabou com a arrogância do velhinho Ouga em questão de segundos e ainda exilou o pobre coitado. hahahahah

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