A Conclusão, parte 5

A Conclusão, Parte 5
por Shawn Carman

Era necessário esforço total de Moto Jin-sahn para não ficar inquieto enquanto esperava na sala fora da principal câmara de audiência de Kyuden Seppun. Seus companheiros estavam ajudando na defesa do palácio a meses, mas a despeito da confortável familiaridade de tantos guardas do Unicórnio, ele ainda se sentia fora de seu lugar. Uma parte distante dele, algum lugar nas profundezas onde ele escondia sua fraqueza, exigia que ele fugisse e nunca olhasse pra trás, mas ele esmagou a voz tão rapidamente quanto ela havia surgido.

Tudo isso, Jin-sahn refletiu, era devido ao torneio. Ele havia emergido vitorioso naquele dia por razões que ele ainda não compreendia totalmente. Aquilo havia sido apenas ontem? Como era possível? Jin-sahn sabia que os Lordes da Morte haviam o abençoado, e que apenas através de sua força e poder ele havia ganhado o dia. Ele sabia que tudo que viria desta vitória seria uma oportunidade para que ele defendesse sua causa. O que viesse disso, ele deveria se lembrar deste propósito.



“Moto Jin-sahn”.

O guerreiro Moto se curvou profundamente quando a forma inconfundível de Togashi Satsu emergiu da próxima sala. “Hai, Satsu-sama.”

“A Imperatriz deseja vê-lo”, Satsu disse. “Poderia me seguir?” Jin-sahn concordou e seguiu o monge de ombros largos até a câmara de audiência.

Havia sido retirado da câmara tudo exceto pela ornamentação mais essencial. Era possível que ela sempre houvesse parecida austera, mas Jin-sahn não poderia ter certeza. A característica dominante na sala no momento era o que parecia ser uma plataforma erguida com um grande biombo em sua frente. Lanternas ardiam por trás do biombo, e em sua luz Jin-sahn pode perceber a clara silhueta de  uma mulher sentada sobre a plataforma, o observando. Em cada lado do estrado, sentados em plataformas menores que não estavam cobertas pelo biombo, estavam as Vozes dos Céus, tanto a Voz do Sol de Jade quanto a Voz da Lua de Obsidiana, o encarando diretamente e sem nenhuma demonstração de emoção. Jin-sahn imediatamente se ajoelhou em frente ao biombo. “Minha Imperatriz”, ele disse, sua voz quase falhando pela emoção. Estar em sua presença era saber que ela era a manifestação da vontade dos Céus.

“Agrada muito à Imperatriz sua vitória no Torneio Celestial,” Satsu disse. “Ela não vê falhas na avaliação das Vozes dos Céus. Você é um homem de grande virtude. Devoção. Lealdade. Altruísmo. Você é um exemplo a todos os guerreiros.”

Jin-sahn fechou seus olhos para conter as lágrimas. “Obrigado, Imperatriz Divina. Eu não sou digno de tal louvor.”

“Isto nós veremos,” Satsu disse. “A Imperatriz deseja saber sua posição e título dentro dos exércitos do Clã do Unicórnio.”

“Eu estou orgulhoso em servir como chui da quarta companhia da Quadragésima Sétima Legião do Khol, em serviço ao Khan Moto Chen.”

“E você serviu com distinção,” Satsu disse. “Você comandou pessoalmente a patrulha de batedores que resgatou Yasuki Jinn-Kuen, representante do Caranguejo na Corte Imperial, de bandidos no Estreito Iuchi, não foi?”

“Eu não poderia permitir viajantes serem ameaçados nas terras do Unicórnio,” ele respondeu. “Fazê-lo colocaria dúvidas sobre a honra de meu Khan.”

Satsu concordou. “A Imperatriz deseja ouvir sobre sua devoção aos Lordes da Morte.”

Jin-sahn hesitou por um momento, já que essa era uma discussão inesperada. “Os Senhores da Morte são os deuses de minha família, de séculos antes de nosso retorno ao Império,” ele explicou. “Eu os honro, e aos meus ancestrais ao fazê-lo. Quando eles receberam o apoio de Tengoku, e sua adoração se tornou mais prevalente, eu pude abraçar minha fé totalmente.” Ele parou por um momento, considerando, então acrescentou. “Eles me dão força e certeza. Com suas bênçãos eu nunca enfraqueço, nunca vacilo.”

“Você imagina alguma situação em que sua fé o colocaria em oposição à vontade da Imperatriz?”

“Não”, Jin-sahn respondeu imediatamente. “Os Senhores da Morte existem para julgar os indignos, e para conceder força àqueles que seguem seu código. A Imperatriz é a manifestação da vontade dos Céus, e eles servem aos Céus do mesmo modo. Não pode haver conflito.”

Satsu olhou para o biombo, e Jin-sahn viu a silhueta da Imperatriz acenando com a cabeça, lentamente. “É a vontade da Imperatriz Divina que você aceite a posição como Shogun do Império,” Satsu disse. “Assim você tomará o comando do que resta do Shogunato original, assim como de uma porção das Legiões Imperiais.”

Se Jin-sahn não estivesse de joelhos, ele teve certeza de que suas pernas desabariam sob ele. “Se é a vontade da Imperatriz, eu servirei do modo que ela deseja.”

“Tome o comando de suas forças,” Satsu disse. “Faça as mudanças que achar necessárias. Em três dias, você liderará seus homens para Shinomen Mori para purgá-la de qualquer influência pelo auto-intitulado Clã da Aranha. Você também vai enviar forças para as ruínas de Otosan Uchi para procurar por qualquer presença que a Aranha possa ter por lá.”

“Hai, Imperatriz,” Jin-sahn disse. “Eu devo antecipar os Grandes Clãs também participando deste esforço militar?”

“Os clãs não saberão o propósito de sua campanha,” Satsu respondeu. “Se eles perguntarem, então você informará que eles saberão quando a Imperatriz desejar, e que interferência na execução de seus deveres levará a uma imediata e severa sanção da própria Imperatriz.”

Jin-sahn não demonstrou sinais de surpresa. “Como ordenar, minha Imperatriz.”

“Vá com as bênçãos da Filha dos Céus,” satsu disse.

***

Jin-sahn estava sentado mudo no templo, se esforçando para se concentrar em suas preces diárias, mas sua mente continuava a vagar por outros assuntos. Ele se repreendeu internamente por deixar assuntos mundanos nublarem sua mente desse modo, mas não pode se impedir. Ele teria que se penitenciar de algum modo depois pelo seu fracasso.

O Khan recebeu seu anúncio com muito agrado, e desejava um festival em honra ao Shogun. De sua parte, Jin-sahn odiava a idéia, e explicou que seus deveres impediriam seu retorno imediato às províncias do Unicórnio. O humor exuberante de Moto Chen não diminuiu, e ele simplesmente decidiu realizar o festival apesar da ausência de Jin-sahn. Jin-sahn ficou contente em que ele não perguntou a natureza de seus deveres, pois não o agradava a noção de deter informação de seu Khan. Seu dever não permitiria menos, no entanto, e ele tinha que se preparar para a inevitabilidade de que acontecesse.

Jin-sahn sabia que alguém o esperava às portas do templo. Se fosse menos familiar com o silêncio perfeito do templo, ele não saberia que o homem havia entrado, tão silenciosos e respeitosos eram seus movimentos. Quem quer que fosse, ele havia esperado silenciosamente por quase uma hora, sem se mover, sem atrair atenção para ele. Jin-sahn respeitava isso, e por não haver conseguido alcançar seu centro durante sua sessão de preces, ele ofereceu um rápido pedido de desculpas aos Senhores da Morte, jurando duplicar seu tempo de preces à noite, então se levantou para ver quem o estava procurando. Foi algo que ele imaginou que tivesse de se acostumar rápido.

O homem esperando por ele era um Fênix, e apesar de trazer uma bolsa de pergaminhos, também carregava ambas as lâminas. Jin-sahn olhou para ele curiosamente. “Eu não acho que shugenja da Fênix escolham carregar a lâmina, normalmente.”

O homem sorriu levemente e se curvou. “Eu não sou um sacerdote dos kami, Jin-sahn-sama. Esses não são pergaminhos de preces. Eles contém informações vitais necessárias para a execução de seus deveres.”

“Ah? Então você é um mensageiro das Legiões?”

“Não, meu senhor,” o homem respondeu. “Meu nome é Shiba Danjuro. Eu tive o privilégio de servir como segundo em comando de Kaneka-sama, e supervisionei o Shogunato após a sua morte.” Ele ofereceu a bolsa. “Eu preparei extensos relatórios detalhando todos os recursos sob seu comando, incluindo a localização e formação atual de todas as forças ainda sob controle do Shogunato.”

“Eu ouvi falar de você”, Jin-sahn disse, aceitando a bolsa. “Você é um homem bom e honrado.”

“É gentileza sua, meu senhor.” Danjuro disse com simplicidade.

“Você também conhece mais sobre o Shogunato que qualquer alma viva,” Jin-sahn disse. “O que fará agora?”

“Voltar pra casa, eu imagino”, Danjuro disse. “Há um novo Campeão a quem eu nunca tive a chance de servir. Eu espero que eu encontre uma posição em seus exércitos. Eu sou um soldado. É minha função servir.”

“Você é respeitado e admirado pelos homens que seguem o Shogun,” Jin-sahn disse. “Se você puder pensar nisso, eu valorizaria seu serviço como meu shireikan.”

Danjuro pareceu genuinamente surpreso. “Eu... o agradeço, meu senhor. Eu imaginei que você desejaria reorganizar o exército para uma forma mais adequada às táticas menos convencionais de seu clã.”

“Eu devo ser Shogun em primeiro lugar, e Unicórnio em segundo,” Jin-sahn disse. “Eu devo abraçar o que é, não o que eu estou acostumado.” Ele parou e pesou o saco. “Você ficará como meu segundo em comando, e me servirá tão bem e lealmente quanto serviu a Kaneka?”

Danjuro se curvou profundamente. “Seria uma grande honra, meu senhor.”

Jin-sahn sorriu. “Bom. Então venha Danjuro. Temos muito a fazer, e eu temo que pelo menos pelos primeiros dias, eu precisarei me apoiar muito em você.”

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